Silvestres, sensíveis e medicados com amor: a cannabis no cuidado de animais exóticos
Redação
Atualizado: 31 julho, 2025 13:05
<p>Há um universo silencioso e pouco desbravado onde pequenas vidas exalam intensidade. Um universo feito de olhos vívidos, patas delicadas e corpos frágeis que muitas vezes não cabem nos protocolos da medicina convencional. </p><p>São porquinhos-da-índia, sugar gliders, ouriços, calopsitas e até jiboias...seres que agora encontram na cannabis medicinal um sopro de alívio e equilíbrio. </p><p>Nesse caminho entre ciência, afeto e descoberta, veterinárias como Aricia Monteiro e Alice Bonelli estão redesenhando os contornos do cuidado com esses pacientes tão únicos quanto preciosos.</p><h2><br>Quando o invisível se revela: o tratamento que respeita a natureza de cada espécie</h2><p><br> </p><figure class="image image_resized image-style-align-left" style="width:50%;"><img src="https://sechat-images.s3.amazonaws.com/Whats_App_Image_2025_05_29_at_18_31_26_42f7dcc0e8.jpeg" alt="WhatsApp Image 2025-05-29 at 18.31.26.jpeg" srcset="https://sechat-images.s3.amazonaws.com/thumbnail_Whats_App_Image_2025_05_29_at_18_31_26_42f7dcc0e8.jpeg 90w, https://sechat-images.s3.amazonaws.com/small_Whats_App_Image_2025_05_29_at_18_31_26_42f7dcc0e8.jpeg 288w, https://sechat-images.s3.amazonaws.com/medium_Whats_App_Image_2025_05_29_at_18_31_26_42f7dcc0e8.jpeg 431w, https://sechat-images.s3.amazonaws.com/large_Whats_App_Image_2025_05_29_at_18_31_26_42f7dcc0e8.jpeg 575w" sizes="100vw" width="575"><figcaption>Arícia durante imersão para médicos precritores na Associação Canábica Maria Flor, em Marília/SP | Divulgação</figcaption></figure><p>Aricia Monteiro é médica veterinária com especializações em acupuntura e clínica de pets não convencionais. Seu consultório é um espaço de escuta sensível aos silêncios dos animais que não latem nem miam. “Hoje, além de roedores como porquinhos-da-índia e twisters, atendo um ouriço (Atelerix albiventris) e um sugar glider (Petaurus breviceps). Muitos vieram pela acupuntura, mas a cannabis surgiu como aliada principalmente quando a agitação ou o tamanho dificultam o uso das agulhas”, explica.</p><p><br> </p><p>E é aí que o óleo de cannabis entra em cena, não como panaceia, mas como ferramenta. “É uma opção segura, desde que o prescritor conheça profundamente a fisiologia da espécie. Não dá para comparar um rato a um ouriço, ou um réptil a uma ave. Cada corpo fala um idioma diferente”, diz.</p><p> </p><h2>Casos que tocam: da jiboia à rodinha do ouriço</h2><p><br><br>Entre os relatos que mais emocionam, está o da jiboia Morgana, resgatada com uma fratura na coluna e acolhida pelo Parque Ecológico de Americana. “Ela não se alimentava sozinha e demonstrava sinais de dor. Iniciamos com o óleo de cannabis para ajudar no controle da dor e estimular o apetite. Com o tempo, passou a se alimentar sozinha e demonstrar mais atividade”, conta Aricia.</p><figure class="image image_resized image-style-side" style="width:50%;"><img src="https://sechat-images.s3.amazonaws.com/Whats_App_Image_2025_05_28_at_13_02_35_ba4e9853e6.jpeg" alt="WhatsApp Image 2025-05-28 at 13.02.35.jpeg" srcset="https://sechat-images.s3.amazonaws.com/thumbnail_Whats_App_Image_2025_05_28_at_13_02_35_ba4e9853e6.jpeg 113w, https://sechat-images.s3.amazonaws.com/small_Whats_App_Image_2025_05_28_at_13_02_35_ba4e9853e6.jpeg 361w, https://sechat-images.s3.amazonaws.com/medium_Whats_App_Image_2025_05_28_at_13_02_35_ba4e9853e6.jpeg 541w, https://sechat-images.s3.amazonaws.com/large_Whats_App_Image_2025_05_28_at_13_02_35_ba4e9853e6.jpeg 722w" sizes="100vw" width="722"><figcaption>Morgana, a jibóia, passou a se alimentar melhor após o uso do óleo de cannabis medicinal | Divulgação</figcaption></figure><p>Outro pequeno guerreiro é o sugar glider Ninja, de cerca de 10 anos, que chegou à tutora Alice Bonelli com sequelas neurológicas por episódios antigos de hipoglicemia. “Ele cambaleava, evitava se mover e parecia viver mais no medo do que na descoberta. Hoje, depois do uso do óleo, ele virou outro animal: o primeiro a sair da toca, explora o viveiro com curiosidade e equilíbrio, e mal reconhecemos aquele bichinho inseguro de meses atrás".</p><h3><br>Alice, a veterinária e tutora: quando o afeto também é terapêutico</h3><p><br>Alice Bonelli é médica veterinária e também tutora do Ninja, da ouriça Saanen, da porquinha-da-índia Phoebe e do rato Zazu. Seu caminho com a cannabis começou pelo desespero. “Tive um porquinho que passou por mais de 20 desgastes dentários. Nada controlava a dor dele, até que recorremos à acupuntura. Mais tarde, quando nem isso bastava, testamos a cannabis. Ele voltou a comer sozinho”, conta.</p><p> </p><figure class="image image_resized" style="width:50%;"><img src="https://sechat-images.s3.amazonaws.com/Whats_App_Image_2025_05_29_at_18_36_18_a9ef24fe1f.jpeg" alt="WhatsApp Image 2025-05-29 at 18.36.18.jpeg" srcset="https://sechat-images.s3.amazonaws.com/thumbnail_Whats_App_Image_2025_05_29_at_18_36_18_a9ef24fe1f.jpeg 117w, https://sechat-images.s3.amazonaws.com/small_Whats_App_Image_2025_05_29_at_18_36_18_a9ef24fe1f.jpeg 375w, https://sechat-images.s3.amazonaws.com/medium_Whats_App_Image_2025_05_29_at_18_36_18_a9ef24fe1f.jpeg 563w, https://sechat-images.s3.amazonaws.com/large_Whats_App_Image_2025_05_29_at_18_36_18_a9ef24fe1f.jpeg 750w" sizes="100vw" width="750"><figcaption>Alice diz que os tutores devem acreditar em tratamentos integrativos | Divulgação</figcaption></figure><p><br>A experiência abriu caminho para o tratamento dos outros animais. “A Phoebe tem artrite severa e parou de se mutilar. A Saanen quase não andava mais, e agora voltou a correr na rodinha. E nos ratos, o óleo ajudou em casos de linfoma e osteomielite, reduzindo o uso de fármacos”.</p><h2><br>Os desafios: entre a escassez de estudos e o preconceito</h2><p><br>A medicina veterinária de animais exóticos ainda tateia no escuro quando o assunto é cannabis. Há poucos estudos, quase nenhuma padronização de doses e muita resistência, inclusive entre colegas da área. “É essencial que o veterinário conheça a fundo cada espécie. Estamos construindo conhecimento clínico na prática, com responsabilidade e monitoramento diário. Os tutores também precisam ser parceiros atentos”, reforça Aricia.</p><p><br>Alice concorda e vai além: “se o profissional não acredita em terapias integrativas, ele não cuida dos meus animais. Hoje só trabalho com quem entende que bem-estar vai além de protocolos”, argumenta.</p><h2><br>O futuro: mais ciência, mais sensibilidade</h2><p><br>O cuidado com animais exóticos não pode ser genérico. Cada espécie traz seu próprio compasso e, às vezes, a chave para o alívio está em poucas gotas diárias, administradas com o respeito que se deve a uma vida. A cannabis medicinal ainda engatinha nesse universo, mas já dá passos importantes e o mais bonito é perceber que ela não caminha sozinha.</p><p><br>Ela avança ao lado de profissionais como Aricia e Alice, que ouvem o que os olhos dos seus pacientes tentam dizer. Que acreditam que ciência e sensibilidade podem, sim, dividir o mesmo frasco de vidro âmbar.<br> </p>